A INDÚSTRIA, O ESTADO PRECÁRIO
Portugal estava, no que concerne à indústria, muito atrasado em relação a outras nações europeias, como a Inglaterra, a Alemanha, a França ou a Bélgica.
De facto, comparando o nosso país com a Inglaterra, percursora da primeira e segunda Revoluções Industriais, é possível perceber o atraso de quase um século, com que Portugal havia iniciado o seu processo de industrialização.
Por essa razão, a mão-de-obra concentrava-se, preferencialmente na agricultura, o que fazia com que o país exportasse, maioritariamente, produtos agrícolas e não industriais, como acontecia com as potências europeias industrializadas. Os produtos industriais que exportava eram em número reduzido e em condições inferiores aos estrangeiros.
A população que aí se empregava era muito reduzida, como se pode verificar pela tabela abaixo. Nos finais do século XIX, comparando com a população agrícola, verificava-se uma diferença de cerca de 40%! Tendência que, embora diminuindo lentamente, se manteve pelos inícios do século XX.
Tal prova o estado do país, durante este período e o seu atraso em relação à Europa:
- O país era, essencialmente, rural e a maior parte da mão-de-obra era aplicada no sector primário;
- A indústria não tinha ainda despontado, na mesma medida de outras nações europeias. Era atrasada e empregava pouquíssima mão-de-obra.
A acrescentar a todos os factores condicionantes do take-off português já referidos, estão ainda outros, como:
- A inexistência matérias-primas como o algodão e outras, como o ferro e o carvão, que eram de má qualidade;
- A fraca preparação dos recursos humanos, isto é, dos empresários e operários, sendo, estes últimos, na sua maioria, analfabetos e pouco cultos, tornando-se difícil a adaptação ao trabalho fabril;
- A falta de dinheiro, já que os capitalistas portugueses não se mostravam abertos ao investimento na indústria. O capital estrangeiro era o ''salva-vidas'', tendo-se feito inúmeros investimentos com ele, criando uma enorme dependência do exterior.
No entanto, a indústria sofreu um crescimento positivo, apesar das limitações. Os regeneradores tomaram medidas para o seu fomento, como por exemplo, a criação do ensino industrial, na década de 50, para a formação de técnicos especializados e as exposições universais que permitiam o contacto com novas máquinas e técnicas de produção.
De facto, ainda que o crescimento deste sector tenha sido difícil, verificaram-se algumas melhorias, especialmente a partir da década de 70:
- O número de fábricas e operários cresceu;
- Os ramos industriais tornaram-se mais diversos, surgindo novas indústrias como a do tabaco, papel, fósforos, moagem, cortiça ou conservas de peixe;
- Aperfeiçoaram-se técnicas, tendo aumentado o número de importações de máquinas industriais, o registo de patentes de invenções portuguesas e o aumento do vapor como força motriz.
- Permitiu-se a formação de novas sociedades anónimas, através de um decreto-lei de 1867.
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Moinho de cilindros que veio
substituir as antigas mós. Exemplo de
uma das inovações importadas. |
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Fábrica de fiacção (Crestuma), 2ª metade do século XIX.
Apesar da diversificação, o têxtil permaneceu
o principal sector industrial. |
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O nº de sociedades anónimas cresceu acentuadamente
nos finais do século XIX, por causa do decreto-lei
de 1867 do governo regenerador.
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Fonte:
ROSAS, Maria Monterroso, COUTO, Célia Pinto do, O Tempo da História, 3ª parte, 1ª edição, Porto, Porto Editora